sexta-feira, setembro 18, 2009

Novo Blog


Querida(o)s, estou com um novo blog no ar, lá no Pandorama, com mais um monte de gente que eu admiro muito falando de cultura, como a Alice Ruiz, o Antônio Cícero e a Patrícia Palumbo. Passem por lá e palpitem?

Pra quem preferir o link direto é http://ouvindoacotovia.wordpress.com

terça-feira, agosto 11, 2009

Versos roubados II


Epigrama Nº 8
(Cecília Meireles)

Encostei-me a ti, sabendo bem que eras somente onda.
Sabendo bem que eras nuvem, depus a minha vida em ti.

Como sabia bem tudo isso, e dei-me ao teu destino frágil,
fiquei sem poder chorar, quando caí.

quarta-feira, agosto 05, 2009

Satisfação

Vou te amar pra sempre,
me disse.
Satisfeito
com o efeito
foi-se embora
pra sempre

segunda-feira, agosto 03, 2009

Roubando versos






O Menino Perdido
(Pablo Neruda)

Lenta infância de onde
como de um pasto comprido
cresce o duro pistilo,
a madeira do homem.

Quem fui? O que fui? O que fomos?

Não há resposta. Passamos.
Não fomos. Éramos. Outros pés,
outras mãos, outros olhos.
Tudo foi mudando folha por folha,
na árvore. E em ti? Mudou a tua pele,
o teu cabelo, a tua memória. Aquele que não foste.
Aquele foi um menino que passou correndo
atrás de um rio, de uma bicicleta,
e com o movimento
foi-se a tua vida com aquele minuto.
A falsa identidade seguiu os teus passos.
Dia a dia as horas se amarraram,
mas tu já não foste, veio o outro,
o outro tu, e o outro até que foste,
até que te arrancaste
do próprio passageiro,
do trem, dos vagões da vida,
da substituição, do caminhante.
A máscara do menino foi mudando,
emagreceu a sua condição enfermiça,
aquietou-se o seu volúvel poderio:
o esqueleto se manteve firme,
a construção do osso se manteve,
o sorriso,
o passo, o gesto voador, o eco
daquele menino nu
que saiu de um relâmpago,
mas foi o crescimento como um traje!
Era outro o homem e o levou emprestado.

Assim aconteceu comigo.

De silveste
cheguei a cidade, a gás, a rostos cruéis
que mediram a minha luz e a minha estatura,
cheguei a mulheres que em mim se procuraram
como se a mim tivessem perdido,
e assim foi sucedendo
o homem impuro,
filho do filho puro,
até que nada foi como tinha sido,
e de repente apareceu no meu rosto
um rosto de estrangeiro
e era também eu mesmo:
era eu que crescia,
era tu que crescias,
era tudo,
e mudamos
e nunca mais soubemos quem éramos,
e às vezes recordamos
aquele que viveu em nós
e lhe pedimos algo, talvez que se recorde de nós,
que saiba pelo menos que fomos ele, que falamos
com a sua língua,
mas das horas consumidas
aquele nos olha e não nos reconhece.

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quinta-feira, julho 09, 2009

Palavras


Eu não sei qual a fantasia você construiu
Que reorganizou os vocabulários
Palavras significam, são claras
Cortam na carne, se misturam ao sangue
Palavras às vezes doem
Essas
Não têm outro nome, metáfora, sinônimo
Algumas palavras são o que são
Não deviam ser ditas
Quando são
Reverberam
Palavra é bala

segunda-feira, junho 29, 2009

Meu Nego


Micro, o meu gato de 15 anos morreu ontem atacado por dois cães grandes. Velhinho, ele andava distraído dos perigos que sempre escapou. Um gato livre que viveu 15 anos é uma raridade.

O nome Micro veio do tamanho que ele chegou na casa de uma amiga - desmamado cedo, era tão pequenininho que cabia na palma da mão, um micro-gato.

Ele cresceu e se transformou numa pantera negra em miniatura - micro-pantera, e era o gato que me acompanhava em tudo, dos rituais mágicos, onde se ocultava sempre sobre minha capa à escrita da tese. Micro colocava ordem entre os outros gatos da casa, e impedia que gatos estranhos se aproximassem do seu espaço. Sempre me senti mais dele do que ele meu.

Ele e eu amávamos também uma outra gata Artemísia que também morreu na boca de um cachorro. Os dois juntos me deram tantas e tantas alegrias e momentos preciosos que se tornaram parte de mim, e foi ao lado dela que ele foi enterrado, na chácara em que vivi alguns dos melhores anos da minha vida.

Junto deles, ficou mais um pedaço do meu coração, a gratidão pelo amor e o cuidado que sempre tiveram comigo e meu amor por terem me escolhido para viver com eles.

terça-feira, junho 23, 2009

Ilusão à toa

O tempo é de um segundo
Um segundo e um suspiro
Respiração tão próxima
E passa o tempo sem tics
Nem tacs, nem toques
Fecho os olhos, não durmo e nem digo
Aspiro
Expiro
Espero ainda o tempo
O toque, o aroma, o olhar, a palavra
E o sabor dos cinco sentidos

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sexta-feira, março 27, 2009

Pela pele, pelos pêlos


Tenho uma amiga muito querida que me diz sempre que um longo relacionamento, quando termina, não é porque não deu certo. Se foi longo, deu certo, foram anos acertando. Mas o fim sempre é doído, mesmo considerando acertos.

Duas canções sempre foram simbólicas pra mim sobre relacionamentos: “O seu amor”, do Gilberto Gil, e “Todo sentimento”, do Chico e do Cristóvão Bastos. A primeira porque ensina que amar é deixar o outro livre para amar, e a segunda para não deixar o amor cair doente, para terminar antes disso, ou como outra grande amiga me lembrou hoje, poder viver “o tempo da gente se desvencilhar da gente”.

É claro que o Chico Buarque é um sufoco nessas horas, de tanto que acerta inclusive nas tragédias: “Vê se tem no almanaque, essa menina, como é que termina um grande amor? / Se adianta tomar uma aspirina ou se bate na quina aquela dor?” Ou quando lembra que “Posso até / Sair de bar em bar, falar besteira / E me enganar / Com qualquer um deitar / A noite inteira / Eu vou te amar”. Mas essa última é o que não teve acertos, acho.

Os finais das boas histórias, eu acredito, devem valer para o outro sempre o desejo de “Isopor”, de Kléber Albuquerque, em parceria com o Élio Camalle:

Que a luz da lua escorra
Pela pele, pelos pêlos
E que raios de sol embaracem seus cabelos
Que a vida lhe dê muita saliva
Pra lamber sonho em carne viva
Que seu riso não tenha o mínimo pudor
Que os ventos soprem sempre a seu favor
Que você encontra a cama feita, a mesa farta
A casa em festa
Que a boa estrela grude no meio de sua testa
E que o mal tenha paredes de isopor
Tudo de bom

segunda-feira, março 09, 2009

Sobre rosas e mulheres


Acabou nesse ano o dia das rosas, ufa! E recebi um post por e-mail de uma amiga que resume bem o que penso sobre o Dia das Mulheres. Então colo aqui...

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Dia 8 de março seria um dia como qualquer outro, não fosse pela rosa e os parabéns. Toda mulher sabe como é. Ao chegar ao trabalho e dar bom dia aos colegas, algum deles vai soltar: ”parabéns”.

Por alguns segundos, a gente tenta entender por que raios estamos recebendo parabéns se não é nosso aniversário (exceção, claro, à minoria que, de fato, faz aniversário neste dia).. Depois de ficar com cara de bestas, num estalo a gente se lembra da data, dá um sorriso amarelo e responde “obrigada”, pensando: “mas por que eu deveria receber parabéns por ser mulher?”.

Mais tarde, chega um funcionário distribuindo rosas. Novamente, sorriso amarelo e obrigada. É assim todos os anos. Quando não é no trabalho, é em alguma loja.. Quando não é numa loja, é no supermercado. Todos os anos, todo 8 de março: é sempre a maldita rosa.

Dizem que a rosa simboliza a “feminilidade”, a delicadeza. É a mesma metáfora que usam para coibir nossa sexualidade — da supervalorização da virgindidade é que saiu o verbo “deflorar” (como se o homem, ao romper o hímen de uma mulher, arrancasse a flor do solo, tomando-a para si e condenando-a – afinal, depois de arrancada da terra, a flor está fadada à morte). É da metáfora da flor, portanto, que vem a idéia de que mulheres sexualmente ativas são “putas”, inferiores, menos respeitáveis.

A delicadeza da flor também é sua fraqueza. Qualquer movimento mais brusco lhe arranca as pétalas. Dizem o mesmo de nós: que somos o “sexo frágil” e que, por isso, devemos ser protegidas. Mas protegidas do quê? De quem? A julgar pelo número de estupros, precisamos de proteção contra os homens. Ah, mas os homens que estupram são psicopatas, dizem. São loucos. Não é com estes homens que nós namoramos e casamos, não é a eles que confiamos a tarefa de nos proteger. Mas, bem, segundo pesquisa Ibope/Instituto Patricia Galvão, 51% dos brasileiros dizem conhecer alguma mulher que é agredida por seu parceiro. No resto do mundo, em 40 a 70 por cento dos assassinatos de mulheres, o autor é o próprio marido ou companheiro.Este tipo de crime também aparece com frequência na mídia. No entanto, são tratados como crimes “passionais” – o que dá a errônea impressão de que homens e mulheres os cometem com a mesma frequência, já que a paixão é algo que acomete ambos os sexos. Tratam os homens autores destes crimes como “românticos” exagerados, príncipes encantados que foram longe demais. No entanto, são as mulheres as neuróticas nos filmes e novelas. São elas que “amam demais”, não os homens.

Mas a rosa também tem espinhos, o que a torna ainda mais simbólica dos mitos que o patriarcado atribuiu às mulheres. Somos ardilosas, traiçoeiras, manipuladoras, castradoras. Nós é que fomos nos meter com a serpente e tiramos o pobre Adão do paraíso (como se Eva lhe tivesse enfiado a maçã goela abaixo, como se ele não a tivesse comido de livre e espontânea vontade). Várias culturas têm a lenda da vagina dentata. Em Hollywood, as mulheres usam a “sedução” para prejudicar os homens e conseguir o que querem. Nos intervalos do canal Sony, os machos são de “respeito” e as mulheres têm “mentes perigosas”. A mensagem subliminar é: “cuidado, meninos, as mulheres são o capeta disfarçado”. E, foi com medo do capeta que a sociedade, ao longo dos séculos, prendeu as mulheres dentro de casa.. Como se isso não fosse suficiente, limitaram seus movimentos com espartilhos, sapatos minúsculos (na China), saltos altos. Impediram-na que estudasse, que trabalhasse, que tivesse vida própria. Ela era uma propriedade do pai, depois do marido. Tinha sempre de estar sob a tutela de alguém, senão sua “mente perigosa” causaria coisas terríveis.

Mas dizem que a rosa serve para mostrar que, hoje, nos valorizam. Hoje, sim. Vivemos num mundo “pós-feminista” afinal. Todas essas discriminações acabaram! As mulheres votam e trabalham! Não há mais nada para conquistar! Será mesmo? Nos últimos anos, as diferenças salariais entre homens e mulheres (que seguem as mesmas profissões) têm crescido no Brasil, em vez de diminuir. Nos centros urbanos, onde a estrutura ocupacional é mais complexa, a disparidade tende a ser pior. Considerando que recebo menos para desempenhar o mesmo serviço, não parece irônico que o meu colega de trabalho me dê os parabéns por ser mulher?

Dizem que a rosa é um sinal de reconhecimento das nossas capacidades. Mas, no ranking de igualdade política do Fórum Econômico Mundial de 2008, o Brasil está em 100º lugar entre 130 países. As mulheres têm 11% dos cargos ministeriais e 9% dos assentos no Congresso — onde, das 513 cadeiras, apenas 46 são ocupadas por elas. Do total de prefeitos eleitos no ano passado, apenas 9,08% são mulheres. E nós somos 52% da população.

A rosa também simboliza beleza. Ah, o sexo belo. Mas é só passar em frente a uma banca de revistas para descobrir que é exatamente o contrário. Você nunca está bonita o suficiente, bobinha. Não pode ser feliz enquanto não emagrecer. Não pode envelhecer. Não pode ter celulite (embora até bebês tenham furinhos na bunda). Você só terá valor quando for igual a uma modelo de 18 anos (as modelos têm 17 ou 18 anos até quando a propaganda é de creme rejuvenescedor…). Mas mesmo ela não é perfeita: tem de ser photoshopada. Sua pele é alterada a ponto de parecer de plástico: ela não tem espinhas nem estrias nem olheiras nem cicatrizes nem hematomas, nenhuma dessas coisas que a gente tem quando vive. Ela sorri, mas não tem linhas ao lado da boca. Faz cara de brava, mas sua testa não se franze. É magérrima (às vezes, anoréxica), mas não tem nenhum osso saltando. É a beleza impossível, mas você deve persegui-la mesmo assim, se quiser ser “feminina”. Porque, sim, feminilidade é isso: é “se cuidar”. Você não pode relaxar. Não pode se abandonar (em inglês, a expressão usada é exatamente esta: “let yourself go”). Usar uma porrada de cosméticos e fazer plásticas é a maneira (a única maneira, segundo os publicitários) de mostrar a si mesma e aos outros que você se ama. “Você se ama? Então corrija-se”. Por mais contraditória que pareça, é esta a mensagem.

Todo dia 8 de março, nos dão uma rosa como sinal de respeito. No entanto, a misoginia está em toda parte. Os anúncios e ensaios de moda glamurizam a violência contra a mulher. Nas propagandas de cerveja e programas humorísticos, as mulheres são bundas ambulantes, meros objetos sexuais. A pornografia mainstream (feita pela Hollywood pornô, uma indústira multibilionária) tem cada vez mais cenas de violência, estupro e simulação de atos sexuais feitos contra a vontade da mulher. Nos videogames, ganha pontos quem atropelar prostitutas.

Todo dia 8 de março, volto para casa e vejo um monte de mulheres com rosas vermelhas na mão, no metrô. É um sinal de cavalheirismo, dizem. Mas, no mesmo metrô, muitas mulheres são encoxadas todos os dias. Tanto que o Rio criou um vagão exclusivo para as mulheres, para que elas fujam de quem as assedia. Pois é, eles não punem os responsáveis. Acham difícil. Preferem isolar as vítimas. Enquanto não combatermos a idéia de que as mulheres que andam sozinhas por aí são “convidativas”, propriedade pública, isso nunca vai deixar de existir. Enquanto acharem que cantar uma mulher na rua é elogio , isso nunca vai deixar de existir. Atualmente, a propaganda da NET mostra um pinguim (?) dizendo “ê lá em casa” para uma enfermeira. Em outro comercial, o russo garoto-propaganda puxa três mulheres para perto de si, para que os telespectadores entendam que o “combo” da NET engloba três serviços. Aparentemente, temos de rir disso. Aparentemente, isso ajuda a vender TV por assinatura. Muito provavelmente, os publicitários criadores desta peça não sabem o que é andar pela rua sem ser interrompida por um completo desconhecido ameaçando “chupá-la todinha”.

Então, dá licença, mas eu dispenso esta rosa. Não preciso dela. Não a aceito. Não me sinto elogiada com ela. Não quero rosas. Eu quero igualdade de salários, mais representação política, mais respeito, menos violência e menos amarras. Eu quero, de fato, ser igual na sociedade. Eu quero, de fato, caminhar em direção a um mundo em que o feminismo não seja mais necessário.

…Enquanto isso não acontecer, meu querido, enfia esta rosa no dignissímo senhor seu cu.

Autoria: Marjorie Rodrigues / Organização: Comunidade Feminismo e Libertação / Saiba mais sobre a campanha.

terça-feira, março 03, 2009

Qual carnaval?


Me guardei pro carnaval, mas não tenho culpa do carma buarquiano: estou na janela, não vejo o tempo passar. Daqui a pouco já passou, mais esse texto de agora, mais a tese, ô saudades daqui!

sábado, maio 05, 2007

D'Oxum


Pois é, é assim a vida de re-estudante. Tinha aquele artigo de antes do carnaval, que nunca mais acabou. Entreguei finalmente ontem, totalmente insatisfeita. Sofro, sofro, sofro.

Aconteceram muitas coisas nesse tempo – estive em Rondonópolis para uma mesa de História sobre música, falando das compositoras que eu tanto amo – e foram todas. Alice Ruiz deixou o povo emocionado na voz da Ná Ozzetti, cantando “Sem Receita”.

Sempre pergunto, nas aulas e nas palestras: diga rápido o nome de 5 compositoras. Todo mundo engasga. Nem Rita Lee, que está nas paradas há mais de 40 anos as pessoas se lembram. Daí vou contando, e mostrando as canções com as letras, que causa um impacto sempre muito maior – por que as pessoas não prestam atenção nas letras? Puro lirismo!

Eu sempre brinco que já estou naquela idade de andar com uma lista no bolso, daquelas coisas (e pessoas) que a gente sempre esquece. Faye Dunaway é o primeiro nome. Sempre alguém vai lembrar de um filme dela e dizer: “como é mesmo o nome daquela atriz?” – então puxo a lista e está lá! A gente também pode colocar o nome do filme, pra não ter que ouvir a frase completa (“aquela atriz, que fez aquele filme... como era mesmo?) Básico para depois dos quarenta, tipo óculos de leitura.

Então aqui vai uma listinha da maior importância (só das que eu citei lá na mesa): se um dia te pedirem 5 compositoras, você com certeza vai lembrar – como eu, nunca mais me esqueço que é Faye Dunaway o nome da atriz (ou era a Goldie Hawn?).

Adriana Calcanhotto, Alda Rezende, Alice Ruiz, Alzira Espíndola, Ana Carolina, Ana Cristina, Ana Maria Bahiana, Ana Terra, Anapá Silvino, Andreia Dias, Anelis Assumpção, Ângela Ro Ro, Arícia Mess, Babi de Oliveira, Baby Consuelo, Badi Assad, Beatriz Azevedo, Belô Velloso, Bia Mestrinér, Cacala, Cássia Eller, Cátia de França, Cecília Meireles, Ceumar, Chiquinha Gonzaga, Clara Nunes, Clarice Grova, Consuelo de Paula, Cristina Saraiva, Daniela Mercury, Danni Calixto, Dolores Duran, Dona Ivone Lara, Dulce Quental, Eliete Negreiros, Estrela Ruiz Leminski, Etel Frota, Fátima Guedes, Fernanda Abreu, Fernanda Dias, Fernanda Porto, Gal Costa, Iara Rennó, Ivânia Catarina, Izabel Padovani, Joésia Ramos, Jovelina Pérola Negra, Joyce, Jussi Campelo, Kali C.,Kana, Kátia B, Klébi Nori, Laura Campanér, Laura Finocchiaro, Ledusha, Letícia Coura, Lia de Itamaracá, Lu Horta, Lúcia Turnbull, Lucina, Luhli, Márcia Siqueira, Maria Bethânia, Marília Barbosa, Marília Batista, Marina Lima, Marisa Monte, Marlui Miranda, Mathilda Kóvak, Maysa, Ná Ozzetti, Nana Caymmi, Natália Barros, Natalia Mallo, Nilze Carvalho, Olívia Byington, Olívia Hime, Orádia de Oliveira, Paula Toller, Regina Machado, Rita Lee, Rosa Passos, Rosinha de Valença, Sandra Peres, Simone Guimarães, Socorro Lira, Sueli Costa, Suely Mesquita, Suzana Salles, Tânia Bicalho, Tata Fernandes, Tatiana Rocha, Tetê Espíndola, Thereza Tinoco, Vange Milliet, Vânia Bastos, Virgínia Rosa, Zélia Duncan, Zezé Motta.

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Cronos, de novo


Eu sei, estou muito quietinha por aqui - é consegui me "pendurar" em dois artigos que precisam estar prontos até o dia 03 de março - um para um congresso nacional de historiadores e outro para uma apresentação numa mesa redonda no começo de março na UFMT, em Mato Grosso. E um release, para o disco novo da Tetê. Estou tão endividada com meus amigos que ainda serei apedrejada na rua :-)!

Esses artigos são um desafio pra mim - nascem com dor de parto, talvez porque eu gostaria de me sentir mais segura sobre o que escrevo. Cada um dos meus artigos que já foram publicados tenho vontade de recolher e rearrumar - coisas que mudaram, coisas que descobri depois, coisas que mudei de idéia... Já nascem ex-artigos, como eu. A História devia ser assim, como um blog, onde a gente pode voltar e arrumar, completar, construir e desconstruir os textos e o que contamos.

Escrever aqui tem sido uma delícia - não "ter que" ser nada, só colocar o que vai passando pela cabeça é indizível. Aqui não sofro. Então só mais um pouquinho - estou me guardando pra quando o carnaval chegar...

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terça-feira, janeiro 23, 2007

Citando Cartola: eu fiz o que pude

(O título é um trecho de Aldir Blanc, em "50 Anos", parceria com Cristóvão Bastos)

Assisti ontem ao especial dos 30 anos de morte de Maysa, na TV Cultura. E fiquei deliciada com a postura da compositora e cantora ao responder para o Abujamra que “tudo é pessoal”, e que o que detestava era “autoridade”. Lembrei de uma frase das feministas nos anos 1970, que dizia que o pessoal é político.

O feminismo (já ouvi várias vezes nos últimos tempos) estaria ultrapassado. Cansei de ouvir mulheres afirmarem que não são "feministas", e sim "femininas". Sempre me surpreendo com esse "descarte" depois de tantas conquistas. Daí com um pouquinho de conversa percebo que é desinformação, mesmo. Essas mulheres vêem as feministas como mulheres “masculinizadas e mal-humoradas”, imagem que viria, inclusive, dos anos 1970.

As propagandas tratam as mulheres como objetos, isso não é novidade, mas me espantou, recentemente, uma propaganda do Seda Shampoo que faz alusão ao feminismo com frases do tipo "a maior luta das mulheres não é contra os homens, mas contra a lei da gravidade" (por favor, avisem aos roteiristas da propaganda que o feminismo não é nem nunca foi uma "luta contra os homens"!).

É claro que quando a gente fala em "lei da gravidade" a primeira coisa que vem à cabeça não são os cabelos, como sugere a propaganda, mas a paródia de Maysa: "meu peito caiu". Pois é, tudo cai: o peito, as orelhas, o nariz, a bochecha, os olhos (sim, a vista cansada, infalível aos 40, vem da flacidez do músculo ocular, e não existem academias que dêem conta de malhar esse tal)... E nos homens também! Só que neles vira charme. Sei. E nas mulheres, não?

Envelhecer é algo delicioso. Gosto dos meus cabelos brancos, gosto de uma serenidade que adquiri depois de anos de muita ansiedade. Gosto de ler nas rugas que se formaram em meu rosto a minha história, o meu riso.

Gosto de lembrar que não "sou" nada, que "estou" em mutação constante, que posso mudar de idéia. Gosto de perder preconceitos, da compreensão que ganhei experienciando a vida. Eu fiz o que pude (e o que não podia), e adorei isso tudo. Continuo me deliciando.

Vejo as fotos mais antigas, como essa que postei no blog, com Tatiana, que tem exatos 20 anos, e é claro que percebo a diferença. Mas lembro bem que não me sentia diferente em relação à minha aparência do que me sinto hoje. É a mesma coisa, nunca me pensei como feia ou bonita, mas sempre gostei do que fui, com todas as crises que me acompanharam durante anos (e as que persistem até hoje). Tá certo, a briga com a balança hoje é maior, os quilos extras custam mais a nos deixar. Mas a ansiedade não. E teve o que vi, que não teria visto nem vivido se não estivesse hoje com 43. Vivi o tempo de Elis Regina, Cazuza, Janis Jobplin. Vi Itamar Assumpção com o Isca de Polícia. Luli & Lucina cantando e compondo juntas, lindas e loucas. Ainda pude viver em um mundo antes da AIDS, de amor livre, de deliciosa anarquia, que persiste em mim. Sim, meus olhos continuam buscando discos voadores no céu.

Então quis postar aqui um texto de uma dessas feministas que admiro muito, a Gloria Steinem (foto acima). A Gloria foi (e ainda é) uma grande ativista nos anos 1970 e, vejam, foi coelhinha da Playboy no final dos anos 1950! Leiam, e me digam se falta humor às feministas...

Se os homens menstruassem
Gloria Steinem - 1978
In: Memórias da Transgressão. Tradução de Claudia Costa Guimarães. Rio de Janeiro: Record: Rosa dos Tempos, 1997.

Morar na Índia me fez compreender que a minoria branca do mun­do passou séculos nos enganando para que acreditássemos que a pele branca faz uma pessoa superior a outra. Mas na verdade a pele bran­ca só é mais suscetível aos raios ultravioleta e propensa a rugas.

Ler Freud me deixou igualmente cética quanto à inveja do pê­nis. O poder de dar à luz faz a "inveja do útero" mais lógica e um órgão tão externo e desprotegido como o pênis deixa os homens extremamente vulneráveis.

Mas ao ouvir recentemente uma mulher descrever a chegada inesperada de sua menstruação (uma mancha vermelha se espalhara em seu vestido enquanto ela discutia, inflamada, num palco) eu ain­da ranjo os dentes de constrangimento. Isto é, até ela explicar que quando foi informada aos sussurros deste acontecimento óbvio, ela dissera a uma platéia 100% masculina: "Vocês deveriam estar orgu­lhosos de ter uma mulher menstruada em seu palco. É provavelmente a primeira coisa real que acontece com vocês em muitos anos!"

Risos. Alívio. Ela transformara o negativo em positivo. E de al­guma forma sua história se misturou à Índia e a Freud para me fazer compreender finalmente o poder do pensamento positivo. Tudo o que for característico de um grupo "superior" será sempre usado como justificativa para sua superioridade e tudo o que for característico de um grupo "inferior" será usado para justificar suas provações. Ho­mens negros eram recrutados para empregos mal pagos por serem, segundo diziam, mais fortes do que os brancos, enquanto as mulhe­res eram relegadas a empregos mal pagos por serem mais "fracas". Como disse o garotinho quando lhe perguntaram se ele gostaria de ser advogado quando crescesse, como a mãe, "Que nada, isso é tra­balho de mulher." A lógica nada tem a ver com a opressão.

Então, o que aconteceria se, de repente, como num passe de mágica, os homens menstruassem e as mulheres não?

Claramente, a menstruação se tornaria motivo de inveja, de gabações, um evento tipicamente masculino:
Os homens se gabariam da duração e do volume.
Os rapazes se refeririam a ela como o invejadíssimo marco do início da masculinidade. Presentes, cerimônias religiosas, jantares familiares e festinhas de rapazes marcariam o dia.

Para evitar uma perda mensal de produtividade entre os pode­rosos, o Congresso fundaria o Instituto Nacional da Dismenorréia. Os médicos pesquisariam muito pouco a respeito dos males do cora­ção, contra os quais os homens estariam, hormonalmente, protegi­dos e muito a respeito das cólicas menstruais.

Absorventes íntimos seriam subsidiados pelo governo federal e teriam sua distribuição gratuita. E, é claro, muitos homens pagariam mais caro pelo prestígio de marcas como Tampões Paul Newman, Absorventes Mohammad Ali, John Wayne Absorventes Super e Miniabsorventes e Suportes Atléticos Joe Namath - "Para aqueles dias de fluxo leve".

As estatísticas mostrariam que o desempenho masculino nos esportes melhora durante a menstruação, período no qual conquis­tam um maior número de medalhas olímpicas.

Generais, direitistas, políticos e fundamentalistas religiosos ci­tariam a menstruação ("men-struação", de homem em inglês) como prova de que só mesmo os homens poderiam servir a Deus e à nação nos campos de batalha ("Você precisa dar seu sangue para tirar san­gue"), ocupariam os mais altos cargos ("Como é que as mulheres podem ser ferozes o bastante sem um ciclo mensal regido pelo planeta Marte?"), ser padres, pastores, o Próprio Deus ("Ele nos deu este sangue pelos nossos pecados"), ou rabinos ("Como não possuem uma purgação mensal para as suas impurezas, as mulheres não são limpas").

Liberais do sexo masculino insistiriam em que as mulheres são seres iguais, apenas diferentes. Diriam também que qualquer mu­lher poderia se juntar à sua luta, contanto que reconhecesse a supre­macia dos direitos menstruais ("O resto não passa de uma questão") ou então teria de ferir-se seriamente uma vez por mês ("Você precisa dar seu sangue pela revolução").

O povo da malandragem inventaria novas gírias (“Aquele ali é de usar três absorventes de cada vez") e se cumprimentariam, com toda a malandragem, pelas esquinas dizendo coisas tais como:
- Cara, tu tá bonito pacas!
- É cara, tô de chico!

Programas de televisão discutiriam abertamente o assunto. (No seriado Happy Days: Richie e Potsie tentam convencer Fonzie de que ele ainda é "The Fonz", embora tenha pulado duas menstruações seguidas. Hilt Street Blues: o distrito policial inteiro entra no mesmo ciclo.) Assim como os jornais. (TERROR DO VERÃO: TUBARÕES AMEAÇAM HOMENS MENSTRUADOS. JUIZ CITA MENSTRUAÇÃO EM PERDÃO A ESTUPRADOR.) E os filmes fariam o mesmo (Newman e Redford em Irmãos de San­gue).

Os homens convenceriam as mulheres de que o sexo é mais prazeroso "naqueles dias". Diriam que as lésbicas têm medo de san­gue e, portanto, da própria vida, embora elas precisassem mesmo era de um bom homem menstruado.

As faculdades de medicina limitariam o ingresso de mulheres ("elas podem desmaiar ao verem sangue").

É claro que os intelectuais criariam os argumentos mais morais e mais lógicos. Sem aquele dom biológico para medir os ciclos da lua e dos planetas, como pode uma mulher dominar qualquer disci­plina que exigisse uma maior noção de tempo, de espaço e da mate­mática, ou mesmo a habilidade de medir o que quer que fosse? Na filosofia e na religião, como pode uma mulher compensar o fato de estar desconectada do ritmo do universo? Ou mesmo, como pode compensar a falta de uma morte simbólica e da ressurreição todo mês?

A menopausa seria celebrada como um acontecimento positivo, o símbolo de que os homens já haviam acumulado uma quantidade suficiente de sabedoria cíclica para não precisar mais da menstrua­ção.

Os liberais do sexo masculino de todas as áreas seriam gentis com as mulheres. O fato "desses seres" não possuírem o dom de medir a vida, os liberais explicariam, já é em si castigo bastante.

E como será que as mulheres seriam treinadas para reagir? Pode­mos imaginar uma mulher da direita concordando com todos os argu­mentos com um masoquismo valente e sorridente. (“A Emenda de Igual­dade de Direitos forçaria as donas de casa a se ferirem todos os meses": Phyllis Schlafy. "O sangue de seu marido é tão sagrado quanto o de Jesus e, portanto, sexy também!": Marabel Morgan.) Reformistas e Abelhas Rainhas ajustariam suas vidas em torno dos homens que as rodeariam. As feministas explicariam incansavelmente que os homens também precisam ser libertados da falsa impressão da agressividade marciana, assim como as mulheres teriam de escapar às amarras da "inveja mens­trual". As feministas radicais diriam ainda que a opressão das que não menstruam é o padrão para todas as outras opressões. ("Os vampiros foram os primeiros a lutar pela nossa liberdade!") As feministas cultu­rais exaltariam as imagens femininas, sem sangue, na arte e na literatu­ra. As feministas socialistas insistiriam em que, uma vez que o capitalis­mo e o imperialismo fossem derrubados, as mulheres também mens­truariam. ("Se as mulheres não menstruam hoje, na Rússia", explicariam, "é apenas porque o verdadeiro socialismo não pode existir rodeado pelo capitalismo.”)

Em suma, nós descobriríamos, como já deveríamos ter adivinhado, que a lógica está nos olhos do lógico. (Por exemplo, aqui está uma idéia para os teóricos e lógicos: se é verdade que as mulheres se tor­nam menos racionais e mais emocionais no início do ciclo menstrual, quando o nível de hormônios femininos está mais baixo do que nunca, então por que não seria lógico afirmar que em tais dias as mulheres comportam-se mais como os homens se portam o mês inteiro? Eu deixo outros improvisos a seu cargo.

A verdade é que, se os homens menstruassem, as justificativas do poder simplesmente se estenderiam, sem parar.

Se permitíssemos.

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Who is




Hoje é aniversário da minha poeta mais querida, de quem "roubei" o título deste blog. Então uma lasquinha de seus versos para quem não conhece:

ia sendo
não fosse entre nós
o extintor de incêndio



alma de papoula
lágrimas
para as cebolas
dez dedos de fada
caralho
de novo cheirando a alho



por você eu ia
onde o cavalo olhava
por mim eu cavalgava



a gente é só amigo
e de repente
eu bem que podia
ser essa mosca
perto do teu umbigo



E pra quem quiser conhecer um pouquinho das suas músicas, aqui vai em RealPlayer:

Socorro (Arnaldo Antunes e Alice Ruiz) com Alice Ruiz (só os versos, lindo!)
Sem Receita (Zé Miguel Wisnik e Alice Ruiz) com Zé Miguel Wisnik e Ná Ozzetti
Milágrimas (Itamar Assumpção e Alice Ruiz) com Anelis Assumpção e Alice Ruiz
Sei dos Caminhos (Itamar Assumpção e Alice Ruiz) com Alzira Espíndola e Itamar Assumpção
Vou tirar você do dicionário (Itamar Assumpção e Alice Ruiz) com Zélia Duncan
Vê se me esquece (Itamar Assumpção e Alice Ruiz) com Itamar Assumpção
Para Elas (Alzira Espíndola e Alice Ruiz) com Alzira Espíndola e Alice Ruiz
Avesso (Ceumar e Alice Ruiz) com Ceumar

Para ouvir mais e ler mais, no site oficial ;-)

sábado, janeiro 20, 2007

Penélope







"Até amanhã", me disse
E mil noites se passaram
Sem histórias
Nem bordados

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Mais de mil perguntas sem resposta

Pra que a gente não esqueça...

(Olha o vexame da ausência do crédito... Talita quem me passou ;-)!)

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Sonhos sonhos são








Sonhos são Delírios. É Morpheus quem aponta nossos desejos ou Desejo quem nos manipula?

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Quanta cachaça na minha dor


Li, é claro que não me lembro onde, que o inventor do termo dor-de-cotovelo foi mesmo Lupicínio Rodrigues.

Dor-de-cotovelo hoje se lê como inveja. Nada mais fora de propósito.

A nomeada por Lupicínio nascia no momento doloroso do fora do ser amado: a dor levava ao bar. O sujeito se sentava no balcão, pedia uma dose de whisky, e enquanto mexia o copo ouvindo o tilintar do gelo mantinha sempre os cotovelos cravados no balcão, fazendo bolinhas com o suor do copo sobre a madeira. Maior a dor, maior o tempo sentado, as bolinhas e as doses bebidas. Daí a dor-de-cotovelo: muito tempo no balcão com os cotovelos prensados.

Lupicínio, assim como Maysa e Dolores Duran (e cá entre nós, a Phillip Morris) ajudaram a “aprimorar” esse momento com suas canções - nada melhor do que ouvir o melhor da fossa e fumar loucamente enquanto fazemos as bolinhas com o fundo do copo.

Fiz aqui uma listinha, entre as que estão no MPBNet, para os interessados no acompanhamento do cigarro e do whisky:

Antonio Maria é básico, na interpretação de Nora Ney para "Ninguém me ama"

Do Lupicínio não pode faltar: "Aves Daninhas" com Dalva de Oliveira, "Um Favor", cantada pela Gal Costa e "Judiaria" na interpretação da Tetê Espíndola e do Arrigo Barnabé. É divertida, mesmo sendo trágica, e enfiar o pé na lama exige que você ria de você mesma.

Maysa tem várias: "Ouça", "Meu mundo caiu", a interpretação que ela fez de "Ne me quitte pas" (Jacques Brel)... Mas a minha preferida é "Felicidade infeliz", na voz da Alzira Espíndola (tem um sax do Maurício Pereira nela que é uma coisa de louco. Mas se você preferir, pode também escutá-la com a própria Maysa.

Falei de "Ne me quitte pas", e essa canção tem outra interpretação fantástica, com Alda Rezende, já ouviu?

De Dolores Duran, "Solidão", com a própria, "Não me Culpes", com a Ná Ozzetti e, para depois da dor, "O negócio é amar", com Nara Leão.

Do meu amigo querido, Alexandre Lemos, tem uma parceria com a Luli que é uma coisa, cantada pela própria Luli: "Atos".

Cansou? Então regue o futuro com o amor esquecido, ouvindo "Futuros amantes", com Chico Buarque...

domingo, janeiro 14, 2007

Fuga

Às vezes faltam palavras. Elas se escondem nas sombras das luminárias sobre a escrivaninha, sei que se agrupam em festa nos livros em minha estante. Gostam da prateleira de poesia, mas quando vou até lá procurar por elas... Não são minhas as palavras perdidas.

domingo, janeiro 07, 2007

Ex-comunhão

Dentre as várias ex-coisas que me aconteceram teve a ex-comunhão. Chique, de gala e em massa, pelo João Paulo II. Expulsou por decreto do céu e da Igreja todos os astrólogos, e fui beneficiada sem ter que cometer nenhum crime mais grave, o que muito agradeço ao falecido papa. Gosto da idéia de ser pagã e de ter o Limbo como “destino final”. Platão que me aguarde.

Nunca tive muita afinidade com religiões, apesar de ter sido batizada, comungada e crismada e de ter até acreditado em alguma coisa até o final da adolescência (alguma coisa porque era só no que fazia sentido pra mim). Em casa, a leitura da Bíblia era proibida para menores – minha mãe achava o texto um tanto quanto violento.

Acontece que minha sobrinha, na época com 5 ou 6 anos, ganhou no natal a “Bíblia Ilustrada para Crianças” – e a quem coube ler o texto que tornava as figurinhas um mistério para ela? Claro, a tia que aparece pouco e que devia participar mais do crescimento e da formação das sobrinhas, ou seja, esta que vos fala. Protestei como pude:

- Vocês têm certeza do que estão me pedindo?

Protestos da família:

- Ela gosta de te ouvir, leia pra ela!

Ela gostava era de me ouvir cantar. É uma delícia, a crítica infantil ainda não está formada e o Lobo Mau do Braguinha (da coleção Disquinhos) sempre entrou em qualquer parada de sucesso mirim (tá, eu e Tatiana ainda cantamos isso muito tempo nos bares, mas a gente não cresceu direito, fazer o quê?).

Fui pra leitura. E a história, claro, começa pelo Gênesis. Comecei a explicar para ela que a Bíblia foi escrita por um bando de marmanjos que não gostam das mulheres, tratando-as como “coisas”, tipo publicitários de campanhas de cervejas. Ela não entendeu muito, mas parece que gostou do que ouviu.

Fui então para as letrinhas em volta das figurinhas de Abraão. E Deus, para “provar” Abraão disse “Toma agora teu filho; o teu único filho, Isaque, a quem amas; vai à terra de Moriá, e oferece-o ali em holocausto sobre um dos montes que te hei de mostrar.”

- O que é holocausto?

- Ele queria que o Abraão matasse o filho dele para provar seu amor a Deus.

- Por que ele queria isso?

- Porque ELE era muito inseguro, não tinha certeza se Abraão gostava DELE ou não do jeito que ELE achava que tinha que ser. Isso acontece muito nas relações entre homens e mulheres, também. Alguns homens acham que as mulheres não os amam como deveriam, e como Deus não interfere em assunto de marido e mulher, eles mesmo “holocausteiam” suas mulheres.

- Ah!

- Na verdade acho que o problema é essa história de “suas”. As pessoas não são de ninguém. Nem de Deus. Daí ELE fica inseguro.

- Ah!

Fui suspensa das leituras pela família. Virei ex-intérprete da Bíblia...

terça-feira, janeiro 02, 2007

Tatiana Rocha

A gente se conheceu em 87 - eu estava tranqüilamente comendo meu bife 007 (frio, duro e com nervos de aço) no bandejão da Unicamp quando uma mulher com dois palitos espetados na cabeça (sim, feito antenas) se aproximou e disse: "você é a Carô? Prazer, sou sua irmã gêmea!".

Comer o bife do bandejão já era uma tarefa árdua demais, mas fiquei estarrecida, olhando pasma para aquela mulher imensa, que me contou a história toda. Cantávamos no mesmo bar, ela tinha acabado de chegar de Salvador. E ficava surpresa porque sempre tinha alguém acenando pra ela da porta, ela encantada com a cordialidade dos campineiros... até que descobriu que tinha alguém “igualzinha” à ela cantando.

Ficamos amigas pra sempre – e irmãs gêmeas, bancando todas as apostas que faziam nos bares sobre isso. Com ela eu aprendi a me soltar cantando – na marra, porque eu tinha que segurar as gargalhadas enquanto ela interpretava Yolanda-rezando-o-credo-que-tu-me-ensinaste no fundo do bar. Ou me soltava ou rolava de rir. Quase sempre a segunda opção.